A Voz Delas

Numa escrita simples e bem-humorada, Henrique Sequerra transporta-nos para os primeiros anos do Estado Novo e retrata um conjunto de Mulheres que importa reconhecer como determinantes no louvor estarrecido ou na crítica feroz ao poder de Salazar. «— O chefe dá licença? — Já andas por aqui? Madrugaste… — Quero pô-lo ao corrente das novidades. O seu convite para a nova secção do jornal tem puxado por mim e já ando com as antenas no ar para localizar as mulheres que o Salazar vai meter no parlamento. — É essa a ideia. Começamos pelas deputadas e, depois, vamos à procura de outras mulheres que devem ser dadas a conhecer aos portugueses. E nome para a rubrica? Tens alguma ideia? — Vamos chamar-lhe “A voz delas”. — Avós? Mas são todas assim tão velhas? Ou metes a família ao barulho por algum motivo em especial? — Não chefe, não está perceber. Não é avós nem avôs. É a voz, aquilo que nos sai da garganta para a boca… — Ah, bom. É capaz de resultar bem. Um título curto mas que diz tudo. Jornas recebeu a piada como um elogio à sua escolha. “A voz delas” acabara de nascer.»